O Retorno de Heroes: Questões Estratégicas

Começamos agora uma série sobre o Retorno de Heroes, avaliando os motivos dessa nova empreitada e fazendo previsões do que teremos pela frente. Com experiência na cobertura da série desde o seu início, iremos trazer análises com base nos fatos já conhecidos e no atual mercado televisivo americano e mundial.

Nessa primeira parte, iremos abordar os motivos estratégicos que fizeram a emissora NBC ressuscitar a série cancelada em 2010.



A audiência

Quando a série foi cancelada em 2010, os números de audiência haviam decaído muito, principalmente se comparados a sua estréia. Em relação à faixa de horário, e à concorrência, eram números considerados ruins. O gráfico abaixo representa a audiência de Heroes na estréia da ultima temporada.

8:00	FOX	House	6.2/16	15.76
	ABC	Dancing With the Stars	4.0/10	17.43
	CBS	How I Met Your Mother	3.5/9	9.22
	NBC	Heroes	2.8/7	6.27
	CW	One Tree Hill	1.2/3	2.48
8:30	CBS	Accidentally on Purpose	3.2/8	8.99
9:00	FOX	House	6.9/16	17.25
	CBS	Two and a Half Men	4.4/10	13.59
	ABC	Dancing With the Stars	4.2/10	17.64
	NBC	Heroes	2.7/6	5.77
	CW	Gossip Girl	1.1/3	2.09
9:30	CBS	The Big Bang Theory	4.6/10	12.83

O episódio de número 19 encerrou a série marcando 4,41 milhões de telespectadores com ratio de 2.0. O ratio 18-49 representa a quantidade de pessoas da faixa etária entre 18 e 49 anos que assiste um programa de TV. Esse número é mais importante a emissora do que a quantidade de pessoas assistindo no total. Na época um ratio de 2.0 seria ruim para uma série como Heroes (drama de 1 hora numa grande emissora), mas não seria hoje em dia. Séries com ratio acima de 2.0 já são consideradas séries de sucesso.

Pegando um exemplo atual, a série Chicago Fire, da própria NBC, teve audiência de 6,76 milhões em sua ultima exibição. O ratio foi de 1.8. A série é a segunda de melhor performance na emissora no momento.

Quase quatro anos após o final de Heroes, muita coisa mudou na forma de assistir TV. Além do Netflix, outras mídias, como a própria internet, influenciam para a queda de audiência na TV. Isso não acontece apenas nos EUA, é um fenômeno mundial. Então é claro que atualmente os números de Heroes não podem ser comparados com os números das séries atuais sem levar em consideração o fator da queda geral de audiência. E não é só isso. A forma de medir a audiência na TV ainda é limitada. Ela é feita pelo sistema Nilsen, que mede a audiência por amostras, não é um número real, e sim resultado de cálculos e estudos baseados em estatísticas.

O que não mudou de lá pra cá, é que qualquer programa bem feito e bem divulgado, tem boas chances de obter sucesso. Um caso clássico é o de Breaking Bad, que se não tivesse uma base de fã fortes, e a exibição de seus primeiros episódios no Netflix, teria sido cancelada antes do tempo.


O grande sucesso

Ainda falando de números, não podemos esquecer que Heroes teve 15 milhões de espectadores em sua estréia, sendo uma das maiores séries de sucesso dos últimos anos na NBC. Em fevereiro de 2011 eu escrevi um artigo sobre a queda do gênero de super heróis na TV apontando esse fato. A NBC tentou explorar novamente o gênero com a série The Cape, mas não deu certo.

Atualmente temos 2 séries do gênero de Super Heróis no ar, o que pode parecer pouco, mas não é. O canal CW conseguiu emplacar Arrow (a série sobre o Arqueiro Verde) visando os fãs de Smallville, enquanto a ABC também obteve sua fatia de poderes com Marvel's Agents of S.H.I.E.L.D. Essa última, assim como Heroes, teve uma estréia bombástica, mas seus números se normalizaram para uma média decente para o canal, garantido sua estabilidade.

A Fox também já está correndo atrás de sua fatia e está trabalhando no piloto de Gotham, série focada no jovem Bruce Wayne (em seu caminho para se tornar o Batman), no então detetive James Gordon, e nos futuros vilões Pinguim e Charada. A CW também vai investir num novo super herói com The Flash, a partir de Arrow, que se encontra no universo DC, assim como Batman e Superman. Só falta agora a CBS, entre os grandes canais, também investir no gênero.

Podemos concluir que é uma boa estratégia se investir num retorno de Heroes, com o momento atual da TV americana, em que se torna a cada ano mais difícil emplacar um programa novo. Heroes tem um conceito conhecido, um público já formado e ansioso para novas histórias. É certo que os personagens serão novos, mas o universo será o mesmo. Se os últimos fãs de Heroes embarcarem nessa nova etapa, com a expectativa de retorno dos que desistiram e chances de conquistar novos, a audiência parece promissora. É um investimento mais seguro a NBC do que numa série que começará do zero.

A questão da história e das expectativas do que essa mini-série pode representar a longo prazo, será abordada na próxima parte desse especial.