Peço licensa aos internautas para falar de algo não relacionado a Heroes num blog de Heroes.
Geralmente quando uma coisa dessas acontece eu sempre estou em casa. Dessa vez foi diferente. Estava no final de uma aula de literatura africana, quando a professora estava comentando sobre a passagem que ocorre entre o mundo dos vivos e os dos mortos. O assunto veio do conto que estávamos analisando de Mia Couto, e não poderia ter ocorrido em momento mais sinistro. A luz da sala não apagou de vez, apenas ficou mais fraca e começou a piscar. Acho que foi pior do que se tivesse mesmo apagado. Os ventiladores desligaram e vi que nas salas do outro lado do jardim (que ficava ao lado de minha janela) o mesmo acontecia com elas. A professora ainda tentou voltar ao tema, não tinha idéia de que toda a cidade estava apagada. Os alunos, (uma turma pequena depois de uma boa parte ter saído antes do final) começaram a rir da situação e alguém até chegou a comentar "ficamos mexendo nesse assunto, olha o que aconteceu".
Ironicamente, era a segunda vez ontem que eu presenciava falta de luz. De tarde, no Cambuci, a falta de luz fez uma clínica quase parar de funcionar. Os pacientes ficavam nervosos com as atendentes por não poderem fazer seus exames pela falta de energia. Eu, que estava acompanhado minha mãe, apenas fica indignada com a falta de respeito e consideração que muitas pessoas tem em casos como esse, buscando alguém para descontar sua raiva por algo que não era culpa de ninguém.
Naquela noite, quando saímos da sala, vimos que em outros pontos do prédio não havia luz nenhuma. Eu subi ao primeiro andar que dava acesso ao estacionamento onde estava meu carro. Bem naquele dia eu deixei meu carro por lá, geralmente eu deixava na rua em frente ao prédio, que é mais movimentada. Além do estacionamento ser parado e ficar num lugar meio vazio, cercado de arvores, meu carro estava na ultima vaga em direção a "Rua do Matão" um dos lugares mais tenebrosos da Cidade Universitária. Uma professora perguntou ao guarda se a luz só tinha faltado por lá e ele avisou que foi em todo o campus. Mal sabíamos que o negócio pegou parte do país.
Eu fui até meu carro, que estava sozinho naquele ponto do estacionamento, mas como tinha muitos carros saindo a todo momento, não estava tão escuro para chegar até lá.Quando comecei a rodar pelo campus, vi o escuro total. Nos prédios ainda havia luz por conta de geradores, mas nas ruas não. Em todos os bolsões de estacionamentos havia filas de carros se dirigindo as saídas. Nunca vi todos os alunos deixando o lugar ao mesmo tempo, me lembrei na hora daqueles filmes de catástrofes quando todo mundo enche o carro de tranqueiras (na maioria das vezes inúteis) e vão todos pra mesma direção, ficando parados com o excesso de veículos.
Eu olhei para os prédios da marginal pinheiros, e ainda não tinha noção do quanto o apagão atingiu a região, pois muitos estavam completamente acessos, como se nada tivesse acontecido. Quando finalmente cheguei na rua, tive uma dimensão melhor do que acontecia. Algumas pessoas me ligaram dizendo que a luz acabou onde elas estavam, também sem saber que o problema não era só por ali.
Apesar das luzes das ruas não estarem funcionando, assim como qualquer semáforo, consegui chegar em casa numa boa. É claro que nem todas as pessoas tem consciência de que dirigir numa rua sem faróis para controlar o trânsito não lhe dá o direito de passar por todos eles sem parar. O pior eram as pessoas a pé que precisavam atravessar uma avenida muito movimentada e só conseguiam quando alguém resolvia parar o carro e dar passagem a eles.
Cheguei em casa mais cedo do que nunca, pois acabei parando poucas vezes no caminho. Mas por outro lado, ainda estava sem saber realmente o que houve. Minha irmã que estava com o computador do trabalho, equipado com internet 3G soube do que houve pela internet. Poucas estações de rádio ainda funcionavam e imagino ser a principal fonte de informações para muitos naquele momento. A tecnologia avançou muito, mas nos fez depender mais do que nunca da energia elétrica. Pior do que ficar no escuro literalmente é ficar sem saber o que está acontecendo, se sentir como as gerações passadas que esperavam dias para receber uma mensagem, ou que só liam notícias no jornal de papel que saia no dia seguinte. Será que ficamos mal acostumados?
Tenho uma relação especial com as Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa - Pepetela e Mia Couto que o digam! Deveríamos conversar mais sobre o assunto.
ResponderExcluirQue bom chegaste bem em casa; eu estava no meu quarto, com meu note e internet 3G rapidamente tomei ciência de tudo que aconteceu. Infelizmente sofro de insônia e infelizmente nessa noite não havia como ler; fiquei sentado na rua, vendo os carros passarem, até o sono que o resolvesse trabalhar. LOL
Kabral, eu não tinha interesse nenhum em literaturas africanas (de lingua portuguesa) até que fiz uma matéria chamada literatura comparada, que basicamente dialoga entre as literaturas brasileiras, portuguesas e africanas. Cursei todas as matérias daquele curso (1,2,3 e 4) e depois parti para os cursos específicos. Como a matéria se tornou obrigatório para os alunos de português, aumentou muito o interesse por elas.
ResponderExcluirAh, e ontem eu felizmente dormi cedo, nem sei como. Na minha rua mal passa carros, mas também fiquei algum tempo olhando pra ela.
Legal ouvir sua historia no dia do apagao, acho que muitas pessoas ficaram asssutadas, outras nem tanto, eu estava no meu laptop assistindo Heroes quando a menina invisivel tava tomando choque do Samuel, foi bem engracado, pq as luzes comecaram a piscar e depois acabou a luz de vez, eu estava na minha casa em Atibaia, particularmente gostei do apagao, porque imaginei que como a cidade estava totalmente escura, eu iria poder contemplar o céu, ver as estrelas, constelacoes, que é uma coisa que sou fissurado, mas ai pra minha desilusao o ceu estava nublado, mas fiquei bastante preocupado com várias pessoas que conheco e que nao consegui entrar em contato, e quanto a dependencia de toda a tecnologia, realmente temos sim , estamos mal acostumados, mas nada como uns apagoes pra nos lembrar da forca da natureza.
ResponderExcluirUma pessoa de Letras da USP! haha
ResponderExcluirQue legal! Também sou de lá, mas estudo de manhã... Faz parte da equipe do heroes brasil?
Deve ter sido ruim andar no escuro, imagino...
Eu estava em casa, graças a deus tinha terminado o trabalho da faculdade.
Foi realmente muito estranho, tudo começou a piscar e depois desligou. Eu logo tirei tudo da tomada para não queimar.
Espero que expliquem melhor essa história...
E sim,... somos dependentes, agora mais do que nunca, de energia elétrica.
Agora que vi que só tem posts seus na página, acho que o blog é seu né?
ResponderExcluirhehe sorry, my mistake
Pois é, esse apagão foi uma vergonha. Prova de que é necessária uma vigilãncia maior nas áreas críticas de distribuição da rede elétrica.
ResponderExcluirEstava em casa quando aconteceu, mas fiquei preocupado porque aconteceu muito cedo, muita gente ainda estava na rua. Só saí um pouco do prédio para verificar se estava tudo bem na rua e voltei.
Fiquei sabendo do ocorrido pelo porteiro do meu prédio.
Na hora, estava vendo Smallville e olhei pela janela, como moro em um andar alto, pude ver as luzes piscando nos prédios e na rua.
Quanto à energia elétrica, estamos bem dependentes mesmo, por isso apoio as pesquisas de usinas movidas a ar e o que mais puder ser inventado.
Enfim, espero que não aconteça novamente...